Música Música
Na noite em que eu nasci, senhor, juro que a lua se fez vermelha de fogo.
A minha pobre mãe gritou.
Senhor!
A cigana tinha razão.
Eu vi-a cair morta logo ali.
As grandes aves da planície lá me encontraram esperando.
As grandes aves da planície...
Lá me encontraram esperando e, quando me encontraram, sentaram-me no dorso de uma delas que me levou para lá do infinito.
E quando me trouxe de volta, deu-me um unel de feitiçaria de Vénus e disse...
Voa.
Voa.
Porque sou uma criança.
E tu bem sabes que eu sou uma criança.
As minhas flechas são feitas de desejos vindos de tão longe como as minas sulfúricas de Júpiter.
Sim, eu faço amor contigo.
E tu bem sabes, não sentes de dor.
Sim, eu faço amor contigo enquanto dormes e tu bem sabes não sentes dor.
Porque estou a um milhão de milhas da distância e ao mesmo tempo.
Estou ali dentro da moldura com o teu retrato.
Porque sou uma criança.
E tu bem sabes que sou uma criança.
Eu tenho um pássaro mosca que zumbi tanto que pensavas em louco ser.
E sim, eu flutuo em jardins líquidos.
E lá nas novas areias vermelhas do Alentejo...
Provo mel de uma flor chamada melancolia.
E as gentes afundam-se enquanto damos as mãos.
Porque sou uma criança.
E tu bem sabes que eu sou uma criança.