Todo o tempo em que eu viver
Só me fascina você, Mangueira
Guerreei na juventude
Fiz por você o que pude, Mangueira
Continuam nossas lutas
Podam-se os galhos, colhem-se as frutas
E outra vez se semeia
E no fim desse labor, surge outro compositor
Com o mesmo sangue na veia
Em Mangueira, quando morre um poeta (fala, Cartola!)
Todos choram
Vivo tranquilo em Mangueira, porque
Sei que alguém há de chorar, quando eu morrer
Mas o pranto em Mangueira é diferente
É um pranto sem lenço, que alegra a gente
Hei de ter um alguém pra chorar por mim
Através de um pandeiro e de um tamborim
Não há, nem pode haver
Como Mangueira não há
O samba vem de lá, a alegria também
Morena faceira só em Mangueira tem
Aquele mundo de zinco que é Mangueira
Desperta com o apito do trem
Uma cabrocha, uma esteira e um barracão de madeira
Qualquer malandro em Mangueira tem
Mangueira tem
Um grande plantio de bamba
Que dá um fruto a que chamamos samba
Saboroso e faz um bem
Eis a razão porque, de ano para ano
A sua estação primeira evolui
O samba nasce da semente
E a semente do samba só a mangueira possui
Lá em Mangueira
(Aprendi a sapatear)
Lá em Mangueira
(Onde o samba tem seu lugar)
Foi lá no morro
Um luar e um barracão
Lá encontrei alguém que me tratou bem
Meu bem, meu coração
Mangueira (onde é que está?)
Onde é que estão os tamborins, ó nega (não ouço mais)
Viver somente de cartar não chega (ó minha Mangueira)
Põe as pastoras na avenida (Mangueira querida)
Antigamente havia grande escola
Lindos sambas do cartola, o sucesso de mangueira
Mas hoje o silêncio é profundo, e por nada neste mundo
Eu consigo ouvir Mangueira
Levanta, Mangueira
A poeira do chão
Samba de empolgação
Desde o dia em que me despedi de Mangueira
Nunca mais eu vi o povo de lá
Nunca mais cantei, nunca mais sambei
Nunca mais escutei o canto do meu sabiá
Meu sabiá cantava noite e dia
Cantava noite e dia sem parar
Constituia a minha alegria
Que o povo da cidade quer roubar
Aquele sabiá foi quem me deu inspiração
Pra fazer meu primeiro samba-canção
Mangueira, teu cenário é uma beleza
Que a natureza criou
O morro, com seus barracões de zinco
Quando amanhece, que esplendor
Todo mundo te conhece ao longe
Pelo som dos seus tamborins e o rufar do seu tambor
Chegou
A Mangueira chegou
Chegou
A Mangueira chegou
Portela, Salgueiro
Mangueira, estação primeira
Marcai os nossos pandeiros na paz
Porque a sola do samba não sai
Em Mangueira na hora da minha despedida
Todo mundo foi, e todo mundo foi
Foi, talvez, a maior emoção da minha vida
Pois em Mangueira o meu coração ficou
Chegou
A Mangueira chegou
Chegou
A Mangueira chegou
Chegou
A Mangueira chegou
Chegou
A Mangueira chegou
