Banco de trás e pais na frente, grande saco
Três, seis, dois
Conto carros para o tempo escorregar
Aceno aos condutores desajeitados que nem patos
Sentados nas latas chatas, vão a ruminar
Lá fora chove aos molhos e os meus olhos
Estão a delirar
O Cristo rei não está lá
Roubaram-no com um carocha
Cor de burro quando a mocha
Mas porque é que a vida é assim chata?
Eu quero carros às bolinhas, riscas
Ou com andorinhas, pardas, pagas, pagas
Tu vê lá se alinhas
O meu carro não é meu
Cinzento ou branco, não sou eu
Há um engano aqui
E nós a ver
Já lá vão quatro horas, aperta o cinto
Viajem mais monótona, nem sei para onde olhar
Carros cinza baço, azul escuro, não consinto
Para aí o carro, estou aflito pra mijar
Abro a porta empenada
Da batida da noite passada
Tiro a roupa e aqui estou
Desato a correr na autoestrada
E a chover por entre carros
Chatos, eu já nem os oiço buzinar
Cá vou de rabinho ao léu
Com a pilinha que o nosso senhor me deu
Amarafada vai a saltitar
O bófia vem no meu encalço
À paisana disfarçado, e falso
Pega em mim e toca de me algemar
Dou por mim dentro de um carro, chato
E o bófia, outro chato, não hesita em perguntar
Mas o que é que lhe deu para se desnudar?