O homem que não tinha
nada, acordou bem cedo
Com a luz do sol já que
não tem despertador
Ele não tinha nada, então
também não tinha medo
E foi pra luta como
faz um bom trabalhador
O homem que não tinha nada,
enfrenta o trem lotado
A sete horas da manhã
com sorriso no rosto
Se despediu de sua mulher
com um beijo molhado
Pra provar do seu amor
e pra marcar seu posto
O homem que não tinha
nada, tinha de tudo
Artrose, artrite, diabetes
e o que mais tiver
Mas tinha dentro da sua
alma muito conteúdo
E mesmo sem ter quase
nada ele ainda tinha fé
O homem que não tinha
nada, tinha um trabalho
Com um esfregão limpando
aquele chão sem fim
Mesmo que alguém sujasse
de propósito o assoalho
Ele sorria alegremente, e dizia assim
O ser humano é falho,
hoje mesmo eu falhei
Ninguém nasce sabendo,
então me dei e tentar
O ser humano é falho,
hoje mesmo eu falhei
Ninguém nasce sabendo,
então me dei e tentar
O homem que não tinha
nada, tinha Marizete
Maria Flor, Marina, Mario
que era o seu menor
Um tinha nove, uma doze, outra dezessete
A de quarenta sempre
foi o seu amor maior
O homem que não tinha
nada, tinha um problema
Um dia antes mesmo foi cortado a sua luz
Subiu no poste, e periente,
fez o seu esquema
Mais à noite reforçou o pedido pra Jesus
O homem que não tinha
nada, seguiu a sua trilha
Mesmo caminho, mesmo
horário, mas foi diferente
Ligou pra casa pra dizer
que amava sua família
Acho que ali já pressentia
o que vinha na frente
O homem que não tinha nada
Encontrou outro homem que não tinha nada
Mas esse tinha uma faca
Queria o pouco que ele
tinha, ou seja nada
Na paranoia, noia que não ganha te ataca
O homem que não tinha nada,
agora já não tinha vida
Dei ou pra trás três filhos e sua mulher
O povo queimou pneu, fechou a avenida
E escreveu no asfalto "saudade do Josué"
O ser humano é falho,
hoje mesmo eu falhei
Ninguém nasce sabendo,
então me dei e tentar
O ser humano é falho,
hoje mesmo eu falhei
Ninguém nasce sabendo,
então me dei e tentar
Então me dei e tentar
Então me dei e tentar
Então me dei e tentar