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Cimento e Lágrimas

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Amou daquela vez

Como se fosse a última

Beijou sua mulher

Como se fosse a última

E cada filho seu

Como se fosse o único

E atravessou a rua com seu passo tímido

Subiu a construção como se fosse máquina

Ergueu no patamar quatro paredes sólidas

Tijolo por tijolo num desenho lógico

Seus olhos embotados de cimento e lágrimas

Dracmas do c**o no suco

Curtindo pacas litoral do Pernambuco

Esmola, cesta básica

Pela desgraça física

Sua ambição faminta

É tão nítida, só visa lucro

Nasceu pobre, zuar é prejuízo

Manda quem pode

Obedece quem tem juízo

Não senhor, sim senhor

É sempre humilhante

Quem não se adapta tá no crime

Ou de aviso

Fácil não tá queixa

Sem profissão, queixa

Quer estudar

Mas chega tarde o corpo não deixa

Como disputar emprego com playboy

Acorda tarde, faculdade, casa própria, herdeiro de merda

A empreiteira cobra produção, passagem, café

Suas horas calado em pé

Pra no acerto te roubar, pronto

Sujar sua carteira em três meses por apenas 700 conto

A nova escravidão te dá PIS

FGTS, diz

Morrer por nada te faz feliz

Oportunidade só se for na boca, aos 13 o primeiro diploma

Tatuagem: Vida loka

O mal estar entregue, a paz acesa trague

Por me deixar a margem aceite meu Deus lhe pague

O mal estar entregue, a paz acesa trague

Por me deixar a margem aceite meu Deus lhe pague

Por esse pão pra comer

Por esse chão pra dormir

Deus lhe pague

Por me deixar respirar

Por me deixar existir

Deus lhe pague

A certidão pra nascer

A concessão pra sorrir

Deus lhe pague

Deus lhe pague

O desgraçado do poder

Me trata como lixo orgânico

Amontoado no Ceresp

Mais um número

Pratico aborto

Corpo indigente

Infelizmente essa é BH

Eu e mais dois no túmulo

Mesmo sem querer

É fácil se envolver

A necessidade pede

Não, não, não te manda resolver

Revolver, saída

Seu filho quer comer

O aluguel tá atrasado

E o adianto é botar pra f**r

Vai na lan house base fraca

Na carta de trabalho

Servente, currículo ridículo

Sem Pitágoras, amargarás canteiros

Seis meses meio oficial

Será que um dia eu viro pedreiro

Talvez porteiro na loja de Leroy

Pé de porco defendendo o patrimônio do playboy

Na porta da boate

12 hora por noite

Baba do cracker

Muito louco de bala e de doce

Bem aquilo que o Edi quis falar

Ninguém vê sair

Ninguém escuta chegar

Não sei qual é pior

A coragem ou medo

Viver do tráfico ou ter que acordar cedo

Azedo mentalmente, corpo calejado

Ganhando o boy na repsol

357 cano refrigerado

Eu também só queria um terreno no mato, sem luxo, descalço, mas não

Aqui pra ter um lugar eu tenho que trocar com o choque

Armado até os dente na treta da reintegração

O Brasil não me dá opção, saúde, educação digna

Instrução ou qualificação básica, trágica visão, lástima

Me deixaram entre a boca e a construção

Cumbuca sem mistura, só arroz e salame

Vertigem dá fraqueza, outro que cai do andaime

Este é o mórbido índice

De quem come feijão com arroz como se fosse um príncipe, han

Isso me deixa puto, por minha caía o centro administrativo, não o viaduto

Dá vontade de surtar pra justa causa me lixar

Entrar no office de boxe na p**a do RH

BH um grande canteiro de obras, no topo Demolays

Na base massa de manobra

Vista por esse ângulo

Se depender de mim sua pirâmide vira um losango

Por esse pão pra comer

Por esse chão pra dormir

Deus lhe pague

Por me deixar respirar

Por me deixar existir

Deus lhe pague

A certidão pra nascer

A concessão pra sorrir

Deus lhe pague

Deus lhe pague

Deus lhe pague

Deus lhe pague

Deus lhe pague

Cimento e Lágrimas от FBC - Тексты & Каверы