De noite fria, lua cheia, rua silenciosa, oiço Aperta o coração, sente as batidas como um coiso Vestida com mãos, tudo empunhando uma foice
Já estava destinado nessa noite, o gajo foi Mas ninguém estava à espera, golpeado à meia-noite Mas respirou a noite inteira à morte Reclamava a vida que se aguentava ao corpo Precisava de provas para perceber que estava morto
Mas ele era tão novo, só tinha só tinha visto tão pouco do tanto que a vida move.
No entanto não se move Imóvel como pedra Embriagado por memórias Que o invadem de uma só vez Sem regra, sem ordem
ser método incrédulo absorvia momentos detalhes como um cinéfilo memórias já esquecidas perdidas no inconsciente e uma vida construída até ao trágico presente lamenta tudo o que deixa para trás mas só reclama ao corpo quente da sua mulher que o esperava na cama volta à noite da feira de são domingos de rana lembra a morte pressentida nas palavras da cigana
Deixa-me ler esta sina, ver o que o touro guarda.
Eu estendei no ano de saia.
Não é?
E então as imagens fugiam e fugiam Pouco a pouco cada vez mais vazio Sentiu-se longe a ficar louco Só queria manter
Preciso de um médico.
Sente o seu corpo longe, fraco, frio, quebrado, gélido E logo imagina as garras de Lucifer necrófago E apesar de toda a sua vida ter sido pragmático Deus e o universo permanecem um mistério
A um eterno inferno Na verdade só temo que nada mais exista zero
Senhor, tenho medo.
Se existes, és sádico.
Se isto era inevitável, podias ser rápido.
Senhor, tenho medo.
Será que existe mesmo?
Envia-me um sinal para que me sinta sereno.
E as coisas terrenas, senhor, não quero perdê-las.
Mas o meu espírito voa quase que toca nas estrelas.
Já abraço ao tempo da cala que o invadiu.
Conformou-se finalmente e foi então que partiu.
Olhou para trás mais uma vez para perceber o que sentia.
Seu corpo a longe, nada mais que uma embalagem vazia.
Calma, sorria.
Despediu-se da cidade e das pessoas.
Despediu-se da saudade e apagou-as.
E seu espírito voa.
Sem mais amarras largou este mundo.
E o grito da vida tornou-se num sinal.
Toda a viagem percorrida apenas num segundo E nessa noite eu juro à lua peixe vermelha de fogo Através dos seus olhos de fogo
Viu o vento da vida agora?
Tudo começa de novo Está quente no teu vento
Quem me sente, quem me chama, queima a dor que já não sinto quase a completar o ciclo.
Hoje sou uma voz abafada que me quer como não sou.
Mãe, cheguei e finalmente abri os olhos e cheguei.
que ele assiste.
